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Imagem: Ouriço-cacheiro. Foto: Cetas/SC

A destinação dos animais silvestres que, após serem resgatados ou entregues voluntariamente no Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres de Santa Catarina (Cetas/SC), não conseguem ser reintroduzidos na natureza é um desafio cotidiano do Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA). Para superá-lo, a parceria com zoológicos é fundamental. Nos últimos anos, cerca de 500 animais silvestres, nativos e exóticos, foram encaminhados pelo Instituto para esse tipo de empreendimento em diferentes partes do Brasil.

Conforme a coordenadora de Fauna do IMA, a bióloga Vanessa Moraes Nunes, entre os motivos que impedem o retorno à natureza estão questões relacionadas à saúde e ao comportamento dos animais, à área de distribuição natural da espécie (muitas não ocorrem no Brasil ou em SC), dificuldades de rastreio do local de origem, além do status de conservação.

Nem toda espécie pode ser solta em qualquer parte do bioma no qual é nativa, a área de ocorrência natural é condição básica para se planejar solturas. Além disso, existem fatores relacionados às populações e comunidades ecológicas que devem ser levados em consideração, bem como a capacidade que aquele ambiente tem de receber mais animais.

Condições para destinação

“Quando os animais não podem ser soltos, é necessário que eles sejam encaminhados para empreendimentos que tenham condições adequadas para recebê-los, conforme estabelece a legislação”, diz Vanessa. Os zoológicos estão entre os poucos empreendimentos que conseguem atender aos critérios para receber os animais silvestres que não podem ser devolvidos à natureza. Em Santa Catarina, existem seis zoológicos autorizados pelo Instituto a realizarem o uso e manejo de fauna silvestre.

Esse tipo de empreendimento precisa renovar a licença ambiental a cada quatro anos. “Há uma série de regras que eles precisam seguir, desde a presença permanente de veterinários e biólogos, dieta adequada, até garantir estruturas adaptadas e seguras para cada espécie, entre vários outros critérios”, explica a bióloga. Ela acrescenta que a visitação pública, que só é permitida nesse tipo de empreendimento de fauna, pode colaborar para a educação e sensibilização ambiental. Segundo Vanessa, pessoas mais atentas à defesa dos direitos dos animais colaboram com a fiscalização. “Elas acabam denunciando aos órgãos responsáveis situações que julgam inadequadas”, explica.

Animais lesionados

Problemas físicos ou traumas, que alterem o comportamento, podem comprometer as habilidades naturais dos animais. Um exemplo recente é o caso de um ouriço-cacheiro (Coendou villosus) que foi resgatado em julho deste ano. Ele foi atacado por um cão, no município de Mafra, e recebeu os primeiros cuidados de um médico veterinário em São Bento do Sul. Após a amputação da cauda, o animal foi transferido para o Cetas, onde identificou-se uma fratura em um dos membros posteriores. 

Apesar de ser nativo da Mata Atlântica e ter ocorrência em Santa Catarina, a bióloga explica que as lesões e o comportamento do ouriço, muito dócil, seriam obstáculos para que ele sobrevivesse na natureza. Dessa forma, após a total recuperação, ele foi encaminhado a um zoológico na cidade de Brusque.

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Imagem: Cobra-do-milho albina. Foto: Cetas/SC

Espécies exóticas

Espécies exóticas também não podem ser soltas, a menos que sejam repatriadas para seus locais de origem, o que nem sempre é viável por questões logísticas ou sanitárias. Esse é o caso da cobra-do-milho (Pantherophis guttatus), também conhecida como corn snake, já que é nativa nos Estados Unidos. Neste ano, alguns indivíduos dessa espécie foram apreendidos em ações conjuntas do IMA com as polícias Militar Ambiental e Civil de Santa Catarina.

Por ser silvestre e exótica, essa espécie não pode ser criada e comercializada sem autorização do órgão ambiental competente, muito menos ser solta fora de sua região de ocorrência. A fuga ou soltura de espécies exóticas pode gerar desequilíbrio ecológico e afetar a fauna nativa. Por esse motivo, após avaliação veterinária, indivíduos dessa espécie são destinados a zoológicos como, por exemplo, o de Balneário Camboriú.

 

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Imagem: papagaio-de-peito-roxo. Foto: Cetas/SC

Ameaçados de extinção

Os Centros de Triagem também recebem animais de espécies nativas ameaçadas de extinção. Esse é o caso de um papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea) que foi entregue voluntariamente no Cetas/SC, onde permaneceu por dois meses. Essa espécie é nativa da América do Sul e tem ocorrência no Estado.

No entanto, Vanessa explica que, por se tratar de espécie ameaçada, a orientação é que os animais sejam soltos apenas mediante projetos de pesquisa e conservação. “Enquanto aguarda o direcionamento para um desses projetos, o recomendando é que sejam encaminhados a empreendimentos de fauna autorizados e aos cuidados de técnicos capacitados, conforme ocorreu com este indivíduo que foi destinado ao zoológico de Pomerode”, conta a bióloga.

Atendimentos

Atualmente, o Cetas/SC é administrado pelo IMA em cogestão com o Instituto Catarinense de Conservação da Fauna e Flora (ICCO). Nos primeiros 11 meses de 2024, o Centro de Triagem realizou o atendimento e tratamento de mais de 2 mil animais. No mesmo período, também foram devolvidos à natureza outros 441, por meio de solturas e repatriações (animais enviados para as regiões em que são nativos).

É importante destacar que vender, exportar ou adquirir, guardar, utilizar ou transportar ovos, larvas ou espécies da fauna silvestre, provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente é crime ambiental. Denúncias sobre o descumprimento da legislação podem ser feitas por meio da Ouvidoria do Estado. O link está disponível aqui: https://www.ouvidoria.sc.gov.br/cidadao/