No último sábado, 21 de setembro, 10 dias após o fim do incêndio, uma nova força-tarefa invadiu o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro. Desta vez, as mangueiras foram substituídas por enxadas. A água pela terra. As chamas por mudas. As cinzas pelo verde. O Corpo de Bombeiros, Polícia Militar Ambiental, Defesa Civil, IMA e tantos outros órgãos que participaram do combate ao fogo cederam lugar para que o batalhão formado pela comunidade pudesse trabalhar.
Assim, moradores, profissionais do IMA, técnicos do Instituto Çarakura, homens, mulheres, jovens e crianças cruzaram o Parque carregando nas mãos mudas de plantas e nos corações a certeza de estar fazendo a diferença. Um verdadeiro mutirão pela natureza rompeu a tristeza deixada pelo fogo para plantar uma nova era na maior Unidade de Conservação de proteção integral de Santa Catarina.
Pés firmes e guiados pela consciência de proteger e recuperar o meio ambiente avançaram pela área transformada em cinzas. Mãos fortes empunhando enxadas, impulsionadas pela esperança de um planeta biodiverso e sustentável, sacudiram a terra, até então arrebatada pelas chamas, abrindo espaço para semear nova vida, para tornar verde o que o fogo tornou cinza.
Corações pulsando consciência superaram a manhã de sábado fria e o céu acinzentado, ignoraram a pré-disposição para ficar no conforto de casa, procrastinaram qualquer preguiça, adiaram as desculpas, prorrogaram outros compromissos, priorizaram fazer a diferença, tornar colorido e lindo o dia que amanheceu preto e branco.
Mentes conscientes arrebatadas pelo desejo de fazer mais, de ser a diferença, esmagaram a escuridão causada pelo incêndio, pisaram sobre a vegetação devastada para abrir caminho para que novas plantas possam ali surgir ao lado das que foram apagadas pelo fogo, para que a vida brote novamente e contorne a destruição, para que a mata conquiste mais uma vez o seu lugar, para que cresça e apareça, para o verde cubra qualquer lembrança, qualquer mínima cinza, para que a natureza vença.
Se antes a terra queimou e apenas observou parte da biodiversidade do Parque ser roubada, no sábado, a terra recepcionou mudas transbordando nova vida. Se nos dias 10 e 11 de setembro as chamas do fogo irrompiam pela Unidade, neste 21 de setembro as chamas da esperança irradiaram um clarão de consciência, de preservação, de amor ao meio ambiente. Se as causas da tragédia foram ocasionadas por uma, duas ou mais pessoas, tantas outras já mostraram que se levantarão para mudar a história, para fazer diferente, para combater, controlar, recuperar, fazer nascer de novo.
O Parque Estadual da Serra do Tabuleiro vai, com a colaboração de todos, naturalmente se regenerar. O verde vai voltar a reinar grandioso. A vegetação vai repetidamente avançar sobre a terra, sobre o ar e ganhar as alturas. Os animais de todas as espécies vão retornar ao seu habitat. O meio ambiente, sábio e resiliente como é, vai recuperar a força, a vitalidade, a naturalidade, a riqueza, a biodiversidade.
Cabe ao homem fazer o que estes homens e mulheres e crianças fizeram no último sábado, 21 de setembro, Dia da Árvore. Sair de seus lares carregando enxadas, adubos, mudas de plantas. Avançar sobre a mata, mesmo a de difícil acesso, ultrapassar quaisquer desafios e imprevistos, priorizar plantar hoje para que todos possam colher no futuro.
No sábado, 21 de setembro, Dia da Árvore, as mais de 100 pessoas que participaram do plantio das cerca de 200 mudas em parte da área queimada no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro plantaram muito mais do que aroeiras, araçazeiros, canelas-do-brejo, gabirobeiras, ipês, pitangueiras, jerivás, tarumãs e outras espécies, plantaram nova vida, fizeram brotar nova esperança, entregaram à terra mais futuro, semearam consciência, inspiração, exemplo.
Daqui a algum tempo a colheita será muito além do que o verde que dominará e absorverá a vegetação queimada, a colheita já é agora e está na certeza de que o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro é muito mais extenso do que os 84 mil hectares de área, vai muito além das centenas de espécies vegetais e animais, é ainda maior do que os diversos ecossistemas que ele conserva.
A grandiosidade do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro está em cada um que dele cuida, a cada alguém que nele trabalha, em cada pessoa que nele escolhe percorrer, passear, trilhar. A riqueza dele está em cada um desses homens e mulheres e jovens e crianças que participaram da ação no último sábado e de todos os que de uma forma ou outra contribuem para que a Serra do Tabuleiro permaneça como um dos maiores e mais nobres tesouros de Santa Catarina e do Brasil.
Fotos: Maiara Bersch/ Instituto Çarakura.