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O Grupo de Trabalho do Boto (GT Boto), do Fórum da Pesca, recebeu o professor e pesquisador Fábio Daura Jorge, do Laboratório de Mamíferos Aquáticos (LAMAQ) da UFSC, para uma apresentação do projeto de pesquisa intitulado “Efeitos sistêmicos de uma rara cooperação boto-pescador”, que recentemente foi aprovado em um edital de financiamento do Governo Federal.

O GT do Boto é coordenado pelo Fórum da Pesca em conjunto com o Plano de Ação Estadual para a Conservação do Boto-Pescador (IMA), e tem a participação de diversas instituições e lideranças envolvidas na conservação do boto-pescador, como a Marinha do Brasil, Polícia Militar Ambiental, Secretaria da Pesca e Agricultura de Laguna, Conselho Pastoral dos Pescadores, Movimento Boto Vivo, IBAMA e APA da Baleia Franca.

O projeto apresentado possui objetivos de pesquisa que vão desde buscar o melhor entendimento dos benefícios e consequências ecológicas geradas pela interação dos pescadores com os botos, tanto para botos como para pescadores, até buscar compreender as consequências sociais e econômicas desta pesca cooperativa para a comunidade de pescadores artesanais.

Além disso, o Projeto traz para o foco o Sistema Estuarino de Laguna como um todo, fazendo com que esse ecossistema receba esforços de pesquisa de forma integrada, com objetivo de entender melhor como este sistema funciona e como podemos conservá-lo.

Segundo o Professor Fábio, a interação cooperativa entre botos e pescadores artesanais, quando bem coordenada, resulta em maior sucesso para captura de peixes, tanto para botos quanto para os pescadores. Além do Projeto, ele apresentou aos demais presentes alguns resultados dos estudos realizados nos últimos 13 anos, que monitora toda a população de botos na região das Lagoas do Imaruí e Santo Antônio, identificando os indivíduos a partir do padrão de manchas de sua nadadeira dorsal.

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O professor demonstrou, por exemplo, como estão sendo os estudos para estimar o sucesso na captura de peixes pelos botos e pelos pescadores quando a pesca é realizada em conjunto: “Quando botos interagem com pescadores de forma coordenada, os pescadores aumentam suas capturas de peixes, enquanto os botos aumentam a emissão de sons de ecolocalização, sugerindo que estão forrageando e provavelmente capturando a sua parte, um ou mais peixes. Assim, ambos aumentam suas taxas de sucesso na pesca ou chance de capturar algum peixe ”, explicou.

Na ocasião, foi relatada a existência de três diferentes níveis de envolvimento dos botos com a pesca artesanal: aqueles que não se envolvem na cooperação com pescadores, que geralmente são aqueles que se distribuem por áreas mais distante da barra; aqueles que participam ativamente da cooperação com os pescadores; e aqueles que participam, porém, com menos frequência e menos efetividade.

O professor ressaltou que os botos que cooperam com os pescadores têm maior chance de sobrevivência, de forma que cooperar com pescadores é um comportamento que pode beneficiar, e ajudar a conservar, a população de botos. Entretanto, estes animais continuam ameaçados, pois modelos desenvolvidos pela equipe do professor projetam que a mortalidade por emalhe de um único indivíduo jovem por ano, por exemplo, pode comprometer a população local desses animais, levando-a a extinção.

Além disso, a prática da pesca cooperativa que é benéfica para botos e pescadores também se encontra em declínio, tanto pela diminuição de pescadores que dominam as técnicas necessárias, quanto pelo número de botos cooperativos ou frequência que estes interagem com pescadores.

Portanto, são necessários novos estudos para melhor descrever as interações ecológicas das espécies ocorrentes nesse ecossistema, para que seja possível fazer previsões sobre eventuais consequências de determinadas ações antrópicas ou fenômenos ambientais que estejam afetando a população de botos e sua pesca cooperativa com pescadores. Certamente, essas previsões ajudarão na definição de planos de conservação da espécie, na manutenção da tradição da pesca cooperativa, mas também no manejo deste sistema para que todos os seus usuários se beneficiem.

Imagens: Bianca Romeu - Laboratório de Mamíferos Aquáticos UFSC